Como já disse em posts passados, nos últimos tempos tenho lido diversos livros e artigos sobre política, inclusive dois clássicos quando se fala do assunto, como “1984” e “A Revolução dos Bichos”. Partindo de uma safra que busca se debruçar sobre os acontecimentos da atualidade, hoje vou indicar dois livros que merecem a sua atenção.
Busco medir o valor de uma indicação de leitura pelo custo-benefício do tempo gasto na tarefa e o crescimento pessoal-profissional adquirido, além do prazer obtido. Afinal, a vida é curta pra tanta coisa interessante. No que tange a essas duas dicas aqui, imagino que será um tempo bem utilizado. Vamos a elas:
1# Como as democracias morrem (Editora Zahar)
Lançado em agosto de 2018 no Brasil pela Zahar, no auge da campanha eleitoral, o livro escrito por Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, ambos conceituados professores de Harvard, busca analisar um suposto fenômeno de enfraquecimento do regime democrático pelo mundo e o surgimento de tendências autoritárias em alguns sistemas políticos. O livro parte do recente caso norte-americano de ameaça aos valores democráticos para desenvolver os seus argumentos, mas não se restringe a ele, abordando também a atual onda populista de extrema-direita na Europa, as ditaduras militares na América Latina e resgatando, claro, a conhecida ascensão do nazismo e do fascismo com Hitler e Mussolini nos anos 1930.
Na minha leitura, a obra serve para esclarecer o argumento dos que alertam quanto à ameaça à democracia no mundo e, recentemente, no Brasil, por explicar os pilares fundamentais de um regime democrático – a reserva institucional e a tolerância mútua – e os seus respectivos sistemas de freios e contrapesos, como os partidos políticos e os mecanismos de controle social, como a imprensa.
Se o livro tivesse sido escrito e lançado após as eleições de 2018, com certeza incluiriam o nosso presidente eleito no grupo das figuras potencialmente autoritárias. Digo “potencialmente” porque, como alertam os autores, nem sempre uma ameaça se concretiza, e isso dependerá fundamentalmente da força das instituições, da apropriação dos valores básicos da democracia pela sociedade em geral e diversos outros fatores.
#2 O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil (Boitempo Editorial)
Organizado por Esther Solano, doutora em Ciências Sociais e professora na Unifesp, “O ódio como política” foi lançado também em 2018, durante o período eleitoral, pela Boitempo. Ao contrário do anterior, este livro é uma coletânea de artigos de estudiosos do campo progressista que tentam analisar o avanço dos movimentos de direita no Brasil. Mas não só de “direita”, de uma “nova direita”. Esse campo político ganha diversas expressões que buscam caracterizá-lo em seus elementos primordiais, como: onda conservadora, reacionarismo, fascismo e neoconservadorismo.
Afinal, a polarização política que vivenciamos no Brasil é um fenômeno que precisa ser explicado, compreendido, analisado e trabalhado, para que ele não destrua o nosso sistema político e, consequentemente, o nosso convívio e a nossa democracia – da qual você saberá a importância, após a leitura da primeira dica. Ainda trabalhando com a possível eleição de um candidato de “extrema-direita”, posteriormente concretizada, os artigos abordam temas diversos e parecem não reagir ao ódio ou militar, mas compreender a origem da mudança que vem sendo operada no pensamento político e social nos últimos anos.
Antipetismo, o uso político das redes sociais, fundamentalismo religioso, anticomunismo, recessão democrática, migração da esperança frustrada para o ódio, militarização da vida e dinâmica do “nós contra eles” são apenas alguns dos elementos discutidos nos artigos. Para o leitor desavisado, o livro não se pretende neutro, mas garante sua honestidade intelectual e científica, o que garante uma leitura produtiva e crítica.
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