Há alguma atitude humana que cause maior ou igual espanto que o suicídio? Poucas nos impactam tanto como a capacidade de uma pessoa agir no sentido de tirar a própria vida.
Recentemente me surpreendi com notícias da morte do comediante Fausto Fanti – famoso pelo programa de TV Hermes e Renato – e o ator Robin Williams, ambas relacionadas com a presença da depressão, doença que muitos apontam como o mal do século.
Entre as doenças que mais afetam os países desenvolvidos e em desenvolvimento ao redor do mundo, a depressão afeta o organismo como um todo, comprometendo-o física, social e psicologicamente.
Geralmente caracteriza-se “por episódios de longa duração, alta cronicidade, recaídas e recorrências, prejuízo psicossocial e físico, e alto risco de suicídio” (COUTINHO et al, 2003). Muda a forma que uma pessoa vê o mundo, si mesma e sente a realidade.
“[…] ao sofrer de depressão, o indivíduo depara-se com sentimentos e pensamentos de pessimismo, desamparo, tristeza profunda, apatia, falta de iniciativa, descontentamento físico, dificuldade na organização e fluidez das ideias, comprometimento do julgamento cognitivo, entre outros sintomas.” (SOUGEY, AZEVEDO & TAVEIRA apud COUTINHO et al, 2003).
O termo depressão costuma ser utilizado no senso comum como sinônimo de tristeza ou desânimo, no entanto, é importante diferenciar uma coisa da outra.
Em entrevista ao Dr. Drauzio Varella, o psiquiatra Ricardo Moreno afirma que a tristeza é um fenômeno comum em nossa vida e tem duração limitada, normalmente causada por algum evento ou experiência negativa. Já a depressão, trata-se de uma síndrome, um quadro patológico com base em conjunto de sintomas que afeta o indivíduo por período superior a 15 dias.
Atualmente tratada principalmente com o uso de medicamentos e acompanhamento psicológico, a doença – dividida em leve, moderada e grave – é atravessada por grandes questões que envolvem sua representação social negativa, a relação familiar do indivíduo doente, o próprio reconhecimento do quadro e a adesão ao tratamento.
A importante aliança entre os métodos existentes me leva a crer, conforme afirma Frey et al (2004), que “ao abordar os problemas mentais a partir de uma visão exclusivamente biológica ou psicológica, pode-se estar negando um tratamento mais adequado ao indivíduo que sofre” (FREY et al, 2004).
O pior inimigo continua sendo, com certeza, a falta de informação e orientação.
Abaixo um ótimo vídeo sobre o assunto:
Leia também: Tristeza não tem fim? Distimia: um tipo de depressão crônica
Leia mais sobre o assunto:
Depressão: doença que precisa de tratamento
“Perguntar se suicídio passa pela cabeça é importante”, diz psiquiatra
Uma boa indicação de livro:
Andrew Solomon – O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão
Referências
CORDIOLI, A. V. Psicofármacos nos transtornos mentais.
COUTINHO, Maria da Penha de Lima et al. Depressão, um sofrimento sem fronteira: representações sociais entre crianças e idosos. Psico-USF, v. 8, n. 2, p. 183-192, Jul./Dez. 2003
FREY, B. N. et al. Psicofarmacoterapia e psicoterapia de orientação analítica. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(2):118-123
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Eu adorei a matéria. E também tenho o mesmo proplemas ..
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Obrigado Selma!
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O reconhecimento da doença é um grande passo , demora pra ficha cair… mas a doença ainda é um grande tabu , muita gente , que sequer teve depressão, não acredita que ela existe , gerando preconceito.
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Sem dúvida, a falta de informação é muito prejudicial e atrapalha o tratamento devido aos antigos preconceitos.
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Queria saber o q realmente tenho se sou bi polar ou se sofro de depressao pos parto
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Olá Denise. O ideal para saber melhor o que você está sentindo é buscar uma consulta com um psicólogo ou psiquiatra, e assim iniciar o tratamento adequado. Você conhece alguém que possa lhe indicar onde você mora? Desejo melhoras.
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Gostei muito do assunto.
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Obrigado! Espero que tenha contribuído.
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Costumo dizer que a pior doença é a falta de informação. Isso vale pro próprio doente que muitas das vezes não se informa sobre a propria situação e acaba pondo fim em sua vida. “Vamos se cuidar, vamos se informar”.
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Com certeza a falta de informação é perigosa e devemos contribuir para que cada vez mais pessoas tratem a depressão com a seriedade que ela merece.
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O preconceito é uma das maiores dificuldades, assim como reconhecer a necessidade de tratamento de uma 'doença mental' que, como qualquer outra, necessita de tratamento adequado. Obrigado por acompanhar!
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O pior da falta de informação é que as pessoas tratam a pessoa como um deprimido e não como depressivo. O depressivo por sua vez se acha um louco e sem forças para lutar acaba desistindo da pior maneira possível.
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