Músicas para ouvir com muita atenção

Em retrospectiva, acho interessante que, até hoje, eu tenha falado tão pouco sobre música por aqui. É como se a música fosse uma divisão externa, afinal, por aqui costumo falar somente de Psicologia, Literatura e Trabalho. Digo isso porque a música sempre fez parte da minha vida, de uma maneira bastante central, e costumo escrever bem pouco sobre ela.

Nossa casa sempre foi musical. Me lembro dos meus pais cantando e fazendo atividades domésticas. Eles cantam bem, por mais que não tenham “seguido carreira”. Ouvir música sempre foi uma constante. Me lembro do meu avô paterno, que gostava bastante de cantarolar enquanto passeava por aí, melodias variadas, verbalizadas por meio de um simples “larari larara”. Hoje, quando vejo minha sobrinha, de apenas três anos, inventar músicas e cantarolar – muito afinada, por sinal – enquanto brinca, penso: bom, tem algo aí.

Eu e meu irmão fizemos aula de piano desde cedo e depois os instrumentos foram chegando até nós, mais pra adolescência. Piano e violão – no caso de ambos -, bateria – no meu caso – e flauta transversal – no caso do meu irmão. Bandas foram formadas e dissolvidas. Gostamos de cantar também. Humildemente, somos afinados e temos bons timbres. Nenhum de nós “seguiu carreira”, mas conseguimos nos divertir bastante, fazer amigos e ganhar algum dinheiro e prestígio com isso.

Para mim, posso dizer que atingi o ápice de minhas aspirações musicais quando uni uma das minhas paixões – Os Beatles – com a possibilidade de tocar bateria e cantar no lugar onde tudo começou, em Liverpool, na Inglaterra. Em 2015, eu, junto dos meus amigos de banda Roney e Lucas, tive o prazer de tocar no Cavern Club, o icônico bar onde os Beatles começaram a carreira.

E por qual motivo estou falando tudo isso? Para lembrar que a música sempre foi o que mais fez sentido pra mim. A gente trabalha, estuda, namora, viaja e passeia. Mas não temos aquela coisa de que algumas coisas simplesmente nos parecem fazer mais sentido do que outras, ainda que não saibamos explicar a razão? Pois é, sinto isso ao ouvir música, cantar e tocar. A vida parece que existe por conta dela e pra usufruir dela.

E, assim como falei em um texto há muito publicado por aqui, a arte – e aqui enfatizo a música – tem o poder de nos emocionar, de nos atingir de formas desconhecidas e também de expressar sentimentos que vão muito além das palavras. É nesse ritmo – espero que tenham apreciado a escolha da palavra – que decidi vir aqui e indicar cinco discos (ou álbuns), que é como nós, os antigos, chamamos essa coleção de músicas reunidas em um só lugar – em formato circular -, que, para mim, são simplesmente sensacionais. Para essa edição das recomendações, escolhi somente artistas nacionais – ou quase.

1. Tom Jobim – Matita Perê

Esse disco foi lançado em 1973 (quando eu nem pensava em nascer ainda) por Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (25 de janeiro de 1927 – 8 de dezembro de 1994). É um álbum com oito música, com belíssimos arranjos de orquestra e com Tom Jobim nos brindando com aquela voz tão peculiar e letras maravilhosas. Nessa resenha aqui, encontramos alguns segredos sobre o disco.

Com músicas como Águas de Março, Ana Luiza, Matita Perê, Tempo do Mar, entre outras, esse é aquele disco que merece ser ouvido no escuro, no fone ou com uma boa caixa de som, para apreciar cada momento. Uma pequena observação: o disco seguinte, Urubu (1976), também com belos arranjos instrumentais, não fica pra trás. Escute “Saudade do Brasil“. Tenho dificuldades em escolher o meu favorito, mas acho que é esse aqui.

2. Taiguara – Piano e Viola

Me lembro até hoje de como conheci Taiguara. Ainda quando morava com os meus pais, gostava de ouvir os clássicos do Roberto Carlos (Detalhes, Costumes, Outra vez, entre outros). Vendo aquele meu gosto peculiar por músicas antigas e românticas, eles sugeriram que eu escutasse duas músicas do Taiguara, um artista menos conhecido, mais ou menos da mesma época do Roberto. As músicas eram “Hoje” e “Universo no teu corpo“. Lembro que, uma vez escutadas, procurei conhecer mais do cantor. Comprei cds, discos de vinil e entrei em fóruns da internet sobre ele.

Hoje, Taiguara Chalar da Silva (9 de outubro de 1945 – 14 de fevereiro de 1996) ainda é um dos meu cantores favoritos. As duas músicas que citei não fazem parte deste disco, mas estão em outros álbuns igualmente bons. O meu preferido é este aqui, “Piano e Viola“, lançado em 1972 (quando eu pensava em nascer menos ainda). Com 12 canções, este é um álbum para ouvir com atenção, de coração aberto, entendendo seus momentos calmos e agitados. O piano é destaque, assim como a voz de Taiguara. Músicas como Teu sonho não acabou, Manhã de Londres, Rua dos Ingleses, a própria Piano e Viola e Mudou, são marcantes. Alguns detalhes do disco você encontra aqui.

3. Gilberto Gil – Luminoso

Gilberto Gil, assim como Tom Jobim, dispensa apresentações. Nascido em 1942, Gil esbanja saúde e talento por aí, no auge dos seus quase 82 anos. “Gil Luminoso” foi lançado em 2006 (eu estava no meio da faculdade, com meus vinte e poucos anos) e é, basicamente, um álbum com 15 canções executadas apenas com voz e violão, com arranjos simples e complexos, ao mesmo tempo. Não lembro como cheguei até esse disco, mas ele se tornou um dos meus favoritos ao longo do tempo.

Com um trio de início avassalador (Preciso aprender a só ser, Aqui e Agora, e Copo Vazio), o disco traz músicas belíssimas como Retiros espirituais, Tempo rei e O compositor me disse. É daqueles pra ouvir e refletir, prestando atenção e deixando reverberar. Aqui tem alguns detalhes do disco, que tem lições valiosas, sempre boas de serem relembradas.

4. Maria Bethânia – As canções que você fez pra mim

O que posso dizer deste aqui? É Maria Bethânia cantando somente músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Lançado em 1993 (quando eu devia estar brincando de lego, aos oito anos), o disco tem onze músicas, todas escolhidas, segundo informações, pela própria cantora.

Além da bela canção que abre e dá título ao disco, As canções que você fez pra mim, o álbum conta ainda com Olha, Palavras, Costumes e Você Não Sabe, todas elas bem românticas e dramáticas como um bom ouvinte de Bethânia gosta. Talvez a minha preferida seja Palavras, que é melhor que a versão do próprio Roberto. Bethânia, nascida em 1946, também circula talento e saúde por aí, aos seus 77 anos de idade. Aqui, você encontra uma das suas melhores obras. Alguns detalhes sobre o disco você lê aqui. Este também merece uma audição no escuro, com bastante atenção.

5. Dorival Caymmi – Canções Praieiras

Encerro com um dos meus cantores favoritos e uma de suas obras icônicas. Dorival Caymmi (Salvador, Bahia, 1914 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008) tem uma voz incomparável. Ele me lembra bastante o meu avô paterno, aquele que cantarolava “larari larara”, tanto na aparência, como no tom de voz. Talvez seja uma memória mágica de infância que os torne tão parecidos. Não lembro como cheguei até o Dorival, mas nutro um amor em comum por ele junto com um dos meus melhores amigos, o Danilo, que, por coincidência, tem o mesmo nome de um dos filhos do Dorival.

O disco “Canções Praieiras” traz clássicos de Dorival e uma atmosfera meio praia melancólica e pensativa. Tem uma matéria legal sobre as canções praieiras na Piauí. Gravado pela Odeon, este é o primeiro disco gravado por Dorival, bem no início de sua carreira. São muitas as canções icônicas, mas destaco Quem Vem Para a Beira do Mar, O Bem do Mar, O Mar e A Jangada Voltou Só. É difícil não imaginar o Dorival sentadinho em uma pedra à beira mar, olhando o oceano com aquele bigode característico, pensando em quem foi pro mar e não voltou.

Como, em matéria de música, acredito que o negócio é mais ouvir e sentir do que qualquer outra coisa, não vou escrever nada mais. Escutem e conheçam alguns discos geniais e muito belos da nossa música nacional. Outras indicações? Comenta aí. Abraços!

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