Trinta segundos sem pensar no medo, de Pedro Pacífico

“Ficar trinta segundos sem pensar no medo e, nesse meio-tempo, dar o primeiro passo em direção ao que se deseja fazer. Depois você lida com as consequências”.

Essa frase, que representa uma estratégia utilizada pelo autor em alguns momentos sensíveis de sua vida, traz o título do livro recém lançado por Pedro Pacífico, mais conhecido nas redes sociais como @book.ster. Pedro nasceu em São Paulo, é advogado e influenciador literário, e realiza, desde 2017, um trabalho de incentivo à leitura, por meio da publicação de resenhas e divulgação de obras literárias.

Ainda não conhecia o autor e cheguei até o livro por uma indicação do Alexandre Coimbra, sobre quem comentei no último post, ao indicar o livro “Toda ansiedade merece um abraço“. Confesso que, de início, fiquei mais curioso pela capa e pelo título. “Trinta segundos sem pensar no medo”. Interessante. Depois, quando li a sinopse, percebi que o livro trazia uma “história emocionante e inteligente sobre um processo longo e doloroso de autoaceitação, permeado em grande parte pela relação do autor com a literatura”. Resolvi arriscar.

O livro de Pedro Pacífico é uma autobiografia que intercala relatos bastante íntimos com indicações e comentários sobre obras literárias, criando conexões entre os momentos vividos por ele e as leituras realizadas. O autor busca, na minha percepção, mostrar como o hábito da leitura, que teria chegado de forma tardia em sua vida, apenas na vida adulta, se tornou uma grande referência e ponto de apoio para vivenciar mudanças profundas em sua vida, particularmente relacionadas à sua orientação sexual. O autor tenta desmistificar o hábito de ler, mostrando como a literatura deve ser algo para todos, não apenas para um suposto mundo intelectual.

Apesar de abordar especificamente a questão da sexualidade, o relato do autor nos ajuda a entender como é importante a gente se conhecer e se aceitar, de modo geral, confiando que, mais importante do que ter uma aceitação dos outros e da sociedade, como um todo, é preciso que possamos aceitar e cuidar de nós mesmos. Ao dizer do processo de se aceitar homossexual e comunicar para família e amigos, Pedro diz: “O sentimento era de ter conseguido tirar algo de dentro de mim, uma verdade que havia muitos anos me acompanhava, escondida nos becos fantasmagóricos dos meus pensamentos” (posição 125).

“Você já imaginou viver em estado de alerta, como se guardasse um segredo muito valioso, que a qualquer momento pudesse ser descoberto? […] Como se seus passos e suas atitudes tivessem que ser pensadas e controladas para que o seu lado obscuro não viesse à tona?” (posições 408 e 409). Todos nós, em alguma medida, nos identificamos com essa experiência, em algum momento da vida. Como diz o autor, “grande parte das vezes, o sofrimento é um sentimento solitário, que atormenta o seu hospedeiro com a vergonha de mostrar para os outros a sua vulnerabilidade, impedindo-o de compartilhar a dor e de pedir ajuda” (posição 432).

O autor fala especificamente desse tema no TEDx Talks “A literatura mudou minha vida”, publicado em fevereiro de 2023:

O livro é de fácil leitura e é bem agradável acompanhar o relato do autor em meio às referências literárias e menções a autores conhecidos ou ainda desconhecidos. A experiência de vida trazida por ele é pesada, em alguns momentos, mas a forma como é trazida, com coragem e vulnerabilidade, faz com que reconheçamos como é importante que essas experiências sejam divulgadas. Ao longo do livro, Pedro parece, além de resgatar sua trajetória pessoal-profissional, no âmbito de sua atividade de divulgação da literatura, fazer um desabafo terapêutico, elaborando e ajudando o leitor a se valer daquela análise para pensar sua própria vida.

Ler e conhecer a experiência do Pedro me ajudou a relembrar o momento em que comecei a ter a leitura, em minha vida, como hábito diário. Quando criança, não me lembro de gostar de ler ou me interessar por livros. Nem mesmo adolescente ou durante a faculdade, mostrei interesse em ampliar meu repertório de leitura, e acabava tratando “ler” como obrigação e algo “chato” ou que exigia “esforço”. O primeiro texto desse blog foi publicado em fevereiro de 2014, mais ou menos na época em que tinha começado a ler com mais frequência e achar que gostaria de escrever sobre as coisas. Comecei e gostei. No meu caso, foi a literatura policial que abriu as portas do mundo da literatura pra mim e passei bastante tempo lendo e escrevendo resenhas sobre ela. Como diria o Pedro, foi por meio dos romances policiais que o “mosquito da leitura” me picou. Desde então, não larguei os livros e diversifiquei minhas escolhas.

Para quem gosta de ler e, como eu, se interessou e cultivou o hábito da leitura de forma tardia, o livro “Trinta segundos sem pensar no medo”, assim como o perfil @book.ster, são boas indicações. Agora que conheço o autor, seguirei acompanhando suas dicas e comentários literários, e quem sabe, novos livros que virão por aí.

4 Respostas para “Trinta segundos sem pensar no medo, de Pedro Pacífico

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