Recentemente, tive o prazer de publicar um artigo em francês na companhia de três professores que muito admiro: José Newton Garcia de Araújo (meu orientador no mestrado e doutorado); João César de Freitas Fonseca (coordenador do Grupo de Pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais, do qual faço parte); e Carlos Eduardo Carrusca Vieira (professor da PUC Minas e colaborador do Grupo de Pesquisa).
O artigo, intitulado Une expérience de recherche-intervention dans une entreprise d’exploitation minière : défis et possibilités (Uma experiência de pesquisa-intervenção em uma mineradora: desafios e possibilidades), é uma das publicações vinculadas a uma pesquisa que vimos realizando desde 2018 acerca da atividade de operadores de escavadeira em um sistema de exploração de minério de ferro na região norte do Brasil.
Em síntese, o texto discute o dilema enfrentado pela equipe de pesquisa ao receber a demanda por desenvolver operadores de escavadeira a cabo individuais para aumentar sua produtividade, em um enfoque individual do desempenho, e a perspectiva prática e teórica adotada, centrada na dimensão coletiva do trabalho, promovendo o know-how dos operadores e demais trabalhadores do sistema produtivo local.
Com base em metodologias qualitativas, baseadas nas abordagens clínicas do trabalho, mostramos que a empresa, que antes negligenciava o diálogo com seus trabalhadores, agora tende a acolher ações que visem facilitar a dimensão coletiva do trabalho e também uma participação relativa dos empregados na organização local dos processos de trabalho.
Fundada em 2009, a Communiquer Revue de communication sociale et publique é vinculada à Université du Québec à Montréal e se propõe a publicar textos que podem contribuir para uma melhor compreensão dos fenômenos de comunicação que envolvem o ser humano. Nesta edição, os organizadores buscam trazer artigos que discutem intervenções em diferentes tipos de instituições e ressaltam que essas experiências mostram “práticas científicas reais, capazes de co-construir racionalmente sistemas de intervenção reflexiva e produtores de novos conhecimentos com todos os atores envolvidos”.
Dividido em seis seções, o artigo contextualiza a intervenção, discorre sobre os principais argumentos teóricos presentes nas abordagens clínicas do trabalho e que nos permitem “transformar” ou “trabalhar” a encomenda da organização, e se debruça, por fim, sobre a metodologia utilizada e os resultados produzidos e analisados.
Para mim, as categorias de análise nos ajudam a pensar os dispositivos que possuímos, enquanto pesquisadores, para receber e realizar um manejo clínico da encomenda institucional, de modo a conseguir produzir mudanças (ainda que pequenas) que atendam à real demanda dos trabalhadores (incluindo gestores), mas que não se contraponha de forma explícita, ao ponto de produzir resistências e fechar o espaço para o diálogo.
O artigo completo pode ser acessado no site da revista, assim como todos os outros textos desta e de outras edições.
Leia também:
Republicou isso em Psicologia, Trabalho e processos psicossociais.
CurtirCurtir