A paciente silenciosa, de Alex Michaelides

Emoções não expressadas jamais morrem. Elas são enterradas vivas e voltarão mais tarde, mais feias

Um casal bem sucedido. Um crime. Uma tragédia doméstica. O silêncio. O suspense. Um psicólogo querendo ajudar uma paciente e descobrir a verdade. Uma verdade surpreendente. “A paciente silenciosa“, do escritor Alex Michaelides, entrega isso e muito mais.

Alex nasceu no Chipre em 1977 e mora em Londres. É mestre em literatura inglesa e roteiro cinematográfico. Além de “A paciente silenciosa”, seu primeiro romance e best-seller do The New York Times, o autor publicou “As musas” (2021) e o recente “A fúria” (2024), todos já traduzidos para o português.

O livro, que já estava na minha lista há muito tempo, acabou esquecido na biblioteca do Kindle. Outro dia, em busca de novas leituras, vi a indicação desse livro e lembrei que já havia baixado uma amostra, ainda que não a tenha lido. Bom, assim que terminei a leitura de Neuroses a varejo, da Aline Valek, resolvi embarcar em um romance policial, do outro lado do oceano.

Quando falo de livros que estão entre os mais vendidos, tenho dificuldade em me deter demais em explicar a história. Afinal, temos muitos resumos e críticas por aí. A história está na sinopse. Ei-la:

“Após cometer o assassinado de seu marido, uma mulher se recusa a falar qualquer coisa, deixando suspeitas e mistérios não resolvidos sobre o caso. E o terapeuta Theo Faber está obcecado em descobrir o motivo da violencia e do silencio. Só ela sabe o que aconteceu. Só ele pode fazê-la falar. A paciente silenciosa é um daqueles livros que não saem da cabeça do leitor, quer ele queira, quer não”

O que posso dizer é que, por mais que a premissa do livro seja interessante, o que encontramos na leitura é ainda mais interessante. Obs.: Li este livro na praia, então toda a experiência estava excelente. Descanso, boa leitura, água de côco. Nada mal.

“A verdadeira motivação era puramente egoísta. Eu precisava ajudar a mim mesmo. E acho que isso se aplica à maioria das pessoas que lida com saúde mental. Somos atraídos por essa profissão porque a nossa cabeça está uma bagunça — estudamos psicologia para curar a nós mesmos. Agora, saber se estamos dispostos a admitir isso já é outra história” (posição 290).

É impressionante como Alex consegue transmitir confiança ao abordar temas afins ao universo psíquico. Realmente conseguimos nos transportar para a pele de Theo Faber, o psicoterapeuta forense que busca trabalhar com Alicia Berenson, presa, após, supostamente, assassinar o próprio marido com cinco tiros. O enredo e a forma como a história se desenvolve é bastante factível. Conseguimos nos transportar para o hospital psiquiátrico, para as sessões de Theo com Alicia, para os seus dilemas mentais.

O romance utiliza uma técnica que costuma funcionar bem nesses casos. Alex divide a narrativa entre o relato de Theo Faber, o psicólogo, e o diário de Alicia, supostamente encontrado após o crime. Dessa forma, vamos acompanhando a história através de duas perspectivas, de forma que as peças vão se encaixando aos poucos. É isso que produz o suspense. Como um bom thriller psicológico, “A paciente silenciosa” vai cozinhando o leitor em fogo baixo até a reta final.

“A fúria assassina, a fúria homicida, não nasce no presente. Ela tem origem no território anterior à memória, no mundo da primeira infância, com abusos e maus-tratos, que vão se acumulando ao longo dos anos até explodir — não raro contra o alvo errado” (posição 697)

Como leitor, me reservo o direito de fazer uma crítica construtiva ao livro. Apesar de concordar que o recurso da dupla narrativa dê ao livro justamente o suspense que ele promete, fica difícil “aceitar” que estamos lendo um diário, de fato. Afinal, em diversos momentos, o diário se transforma em uma segunda narração, com trechos de diálogo e detalhes excessivos. Algo que uma pessoa não faria em um diário.

Contudo, sem o diário, a história não seria a mesma. Portanto, temos que acabar deixando isso de lado e embarcar na história. Mas talvez eu só esteja sendo chato.

“A paciente silenciosa” é um dos romances policiais mais interessantes que li. Cumpre muito bem o papel de apresentar um crime, criar um suspense, nos deixar criando teorias e “bang“, nos dar aquela pancada na cabeça trazendo a verdade à tona.

“O objetivo da terapia não é consertar o passado, mas permitir que o paciente enfrente sua própria história e sinta sua dor” (posição 3766).

Não é exatamente uma investigação policial, mas a busca por entender o silêncio da suposta assassina e compreender aquele crime enigmático. O que é real e o que é delírio? Fui bastante surpreendido pelo desenvolvimento da história e apreciei a leitura fácil. É uma narrativa muito envolvente. Queremos saber o que acontece logo. Torcemos por Theo.

Para quem busca um bom suspense, com uma dose extra de elementos psicológicos, o primeiro romance de Alex Michaelides é uma ótima pedida. Ah, e se você por acaso ficar com essa expressão abaixo em algum momento da leitura, não deixe de comentar por aqui. Eu fiquei.


Descubra mais sobre Mais uma Opinião

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

8 Respostas para “A paciente silenciosa, de Alex Michaelides

  1. Pingback: No barquinho dos textos longos, o que li e escrevi | Mais uma Opinião·

  2. Pingback: Acioli, Ferraz, Lísias e os livros de 2024 | Mais uma Opinião·

  3. minha reação foi a mesma ao terminar a leitura, no caso, agora! Precisei vir a internet ler comentários, para saber se só eu estava assim! 🙊

    sem dúvidas, uma leitura envolvente, inteligente e acolhedora!

    Curtido por 1 pessoa

  4. Esse livro é uma das minhas leituras favoritas. Intrigante e realmente surpreendente. Eu custei a acreditar no plot. Sabe o que é mais interessante pra mim? O fato de, inúmeras vezes, eu ter me sentido acolhida pelas “explicações” sobre saúde mental. Incrível, simplesmente 🫶🏽✨️

    Curtido por 1 pessoa

Deixar mensagem para Nayara Krause Cancelar resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.