Quando, pela primeira vez, me interessei por este livro, fui cativado pela capa, mas fugindo da tendência em ‘julgar um livro pela capa’, demorei algum tempo até resolver adquiri-lo. Foi uma boa compra. A imagem, que retrata os acontecimentos envolvendo a Revolução Francesa, é uma amostra dos diferentes movimentos e forças que fizeram com que, no fim do século XVIII, a ideia dos Direitos Humanos começasse a tomar forma. “A invenção dos Direitos Humanos: uma história” (Companhia das Letras, 2009), escrito por Lynn Hunt, foi lançado originalmente em 2007 (Inventing Human Rights: A History, W. W. Norton). O livro é bem sucedido, na minha opinião, em reunir elementos que se constituíram ‘o berço’ da noção de Direitos Humanos, não deixando de trazer também os desafios que isso implicou e ainda implica. Não sei se é o melhor do gênero, mas é uma boa leitura.

A partir da análise de três documentos fundamentais: a Declaração da Independência dos Estados Unidos, de 1776; a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789; e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, a historiadora indica que frases como: “todos os homens são criados iguais, dotados pelo seu Criador de certos Direitos inalienáveis, que entre estes estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”, tiveram origem em um tempo e espaço específicos. Além de explorar os bastidores da elaboração destes documentos, abordando o clima político, econômico e o debate social à época, Lynn Hunt, nascida em 1945, professora e historiadora da Universidade da Califórnia, faz um excelente apanhado da literatura e da arte quando do “nascimento” dos direitos individuais.
Elementos como os dramas internos de pessoas comuns, cada vez mais acessíveis nos livros, panfletos e obras de arte, contribuíram para que a noção de individualidade e integridade corporal habitassem não só o discurso, mas os pensamentos, fazendo com que hábitos e comportamentos, nunca antes questionados, agora o fossem. Passando pela abolição da tortura, enquanto dispositivo legalmente utilizado pelo Estado, pela abolição da escravidão, pelo direito ao voto das mulheres e pelas atrocidades vivenciadas por duas guerras mundiais, durante a primeira metade do século XIX, a autora constrói um cenário compreensível para que noções, antes abstratas, se tornassem, com o tempo, medidas práticas e urgentes.
Resumo da editora: Em 1776, a Declaração de Independência dos Estados Unidos, primeiro grande documento histórico de defesa dos direitos humanos, declarava como autoevidente a verdade de que “todos os homens são criados iguais”. Essas belas palavras, no entanto, não impediram que a instituição da escravidão persistisse naquele país por mais quase um século, e que as mulheres norte-americanas só conquistassem o direito de votar em 1920. Paradoxos como esse são abordados e iluminados neste livro da historiadora norte-americana Lynn Hunt, que traça a gênese e o tortuoso desenvolvimento de noções que hoje nos parecem indiscutíveis, como a liberdade religiosa, o direito ao trabalho e a igualdade de todos os indivíduos perante a lei. Tendo como eixo de análise três documentos essenciais – a Declaração de Independência norte-americana, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão produzida no bojo da Revolução Francesa (1789) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas (1948) -, a autora mobiliza conhecimentos da filosofia, da crônica dos eventos políticos e da história do cotidiano para nos mostrar os avanços e recuos dessa tortuosa saga.
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