Na simplicidade dos abraços de pequenos ‘bracinhos’ inocentes, repousava a felicidade de Maurício. Aposentara havia quatro meses e ainda se acostumava a não ter horários, prazos, rotinas e chateações. Se adaptava principalmente a si mesmo e tentava contornar a liberdade de ter, de repente, ‘todo o tempo do mundo’. A visita semanal dos três netos menores iluminava a casa que, a maior parte do tempo, silenciava escura e imóvel.
‘A alegria de uma criança é a curiosidade que perdemos por algum descuido inevitável’ pensava ele. Se impressionava ao perceber-se enferrujado, pouco espontâneo e com dores nas articulações ao menor esforço. Quando esquecera de brincar? Quando fora a última vez que correra? Não se lembrava.
Se desse um pequeno pulo hoje em dia, pensava, com certeza quebraria uma perna ou deslocaria um músculo. Medo, maldito medo… Pior do que esquecer de brincar ou correr, era ter medo de fazê-lo.
Na mesma curiosidade dos pequenos abraços de sua felicidade, encontraria a energia necessária para aposentar o medo, refletia Maurício com inspiração. Aposentaria por invalidez suas inseguranças e se acostumaria a brincar e correr diariamente, tornando sua diversão sua rotina, criando prazos para fortalecer suas articulações e horários para desenferrujar.
‘Adaptar-se à felicidade e à surpresa pode ser mais difícil que acostumar-se à mesmice” concluía, anotando aquela boa frase em um pequeno caderno e sinalizando aos netos que hoje não ficariam em casa. Sairiam para passear e talvez, quem sabe, apostar uma corrida.