O homem aposentado no bar

Da janela do ônibus, vejo o homem grisalho aposentado no bar. Não somente um, alguns. Os homens aposentados e grisalhos no bar ocupam mesas individuais, daquelas de plástico com patrocínio de cerveja. Estão sozinhos, mas estão juntos. Uma comunidade. O aposentado grisalho de camiseta regata, no qual mantenho meu olhar, é um dos homens no bar e, seus companheiros mais fiéis, talvez sejam a garrafa de cerveja e o copo lagoinha, cheio pela metade. Alguns convidaram também o cigarro e o cinzeiro. Meu homem não fuma, não olha o celular. Olha o horizonte. Vê o movimento. Observa os outros homens aposentados no bar. Será o meu homem grisalho um poeta? Escritor de romances? Antigo juiz, procurador, dono da banca de revistas? Por vezes, o olhar se fixa na televisão antiga, de tubo, que passa um jogo de futebol da segunda divisão ou alguma liga europeia. O homem grisalho no bar não conhece a Europa. Do que foge o homem de cabelo cinza aposentado no bar? Da esposa? Dos filhos? Da amante? De si mesmo? Ou quer ser encontrado? Não importa o horário do ônibus. Sol subindo, sol descendo. Lá estão eles, os homens aposentados sentados no bar. “Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios”, disse Vinícius. Mas não é sábado, nem amanhã é domingo, é uma quarta-feira. Será o meu homem, aposentado no bar, vazio? Serei, eu, um homem vazio? Os homens aposentados no bar me tranquilizam, não sei por qual motivo. Sua solidão tem algo de incrível e triste. É hora de seguir caminho. Portas se fecham, olhares se cruzam. Nos vemos amanhã?


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