Outro dia enquanto estava dando um passeio de ônibus, percebi que, na cadeira da frente, estavam uma criança e sua mãe. A criança, como a maioria dos filhotes, esbanjava energia e não conseguia se manter sentada por mais de três segundos. Já a mãe, perdida na leitura de um livro qualquer, tentava, em vão, acalmar sua cria.

Foi então que, de súbito, percebi um pequeno desejo, uma ligeira vontade surgir, um lampejo de indignação ao observar uma das traquinagens do pequeno humano logo à minha frente. A criança se satisfazia ao tentar tirar com as suas unhas e pequenas mãozinhas um adesivo informativo colado na janela do ônibus (revoltas à parte, quem nunca fez isso? É muito bom, confesso, no entanto, normalmente temos uma mãe ou pai ao nosso lado para bater na nossa mão e dizer que não podemos!).

Bom, nesse caso, a mãe não se manifestou e num misto de “olha que bonitinho”, “ah, é só um adesivo” e “meu Deus, que criança insuportável”, manteve sua leitura. Eis então o momento que percebo que estou ficando mais responsável e consciente, ou só mais velho e chato mesmo. Cada tentativa de arrancar o adesivo mais me indignava e pensava em toda a cadeia produtiva daquele adesivo, o dinheiro público que será gasto para repor os adesivos tirados pelas crianças mal olhadas, o funcionário que será contratado apenas para fazer reparos nos ônibus danificados e a eterna destruição sem sentido e sem conhecimento à qual estaremos sempre submissos.

São nesses momentos que você percebe: preciso de férias.